Muitas empresas se autodenominam socialmente responsáveis, in? uenciando a mídia, as organizações do Terceiro Setor e, principalmente, a própria sociedade, entre outros públicos, a acreditar nessa hipótese. O que existe, na verdade, são apenas três categorias de organizações: as que adotam mais políticas e práticas de responsabilidade social, as que adotam menos e aquelas que, até agora, não acordaram para essa nova demanda. Às últimas, que estão perdendo a oportunidade de trilhar esse caminho pelo “amor”, só lhes restará, no futuro, fazê-lo pela “dor”. As ferramentas e informações estão amplamente disponíveis e difundidas, e está próximo o momento em que seu negócio pode começar a apresentar problemas – em especial, pela exigência por parte de seus stakeholders – de uma postura socialmente responsável.
Infelizmente, o conceito de responsabilidade social empresarial vem sendo banalizado, subjugado e, principalmente, tratado de forma leviana por alguns. A temática socioambiental é sagrada e, como tal, deve ser tratada com seriedade, respeito, veracidade, além de ser preservada ao máximo. A? nal, ela não pode, nem deve, ser confundida com marketing ou com outras ferramentas de gestão que, em geral, costumam ser vulgarizadas, igualmente, pelas empresas – a exemplo de ISOs, reengenharia, gestão por competência, outsourcing, balanced scorecard etc. Na ânsia desmedida de se tornarem competitivas e diferenciadas no mercado, muitas empresas acabam negligenciando esses processos, levando-os ao descrédito e arranhando sua imagem e reputação, em vez de agregarem valor à sua marca, como seria o esperado.
Felizmente, nem toda empresa age por má fé ou intenção. A maioria o faz por puro desconhecimento e, sobretudo, pela falta de humildade – característica de grandes corporações – para pedir socorro a consultorias especializadas, imaginando que seu corpo funcional será capaz de gerir área tão especí? ca e estratégica. O fato é que os executivos dessas empresas não possuem formação técnica nem expertise para isso.
O resultado é que, cada vez mais, observam- se peças publicitárias e de marketing primorosas, apoiadas por depoimentos de personalidades dos meios artístico, cultural e esportivo, que avalizam verdadeiras aberrações, pretensamente, de cunho socioambiental.
É chegada a hora de dar um basta nesta situação! Exemplos de embustes sociais não faltam. Seriam precisos vários artigos para relacioná-los. Em razão do espaço, será mencionado apenas um – facilmente identi? cado por aqueles que residem na cidade de São Paulo – e que ultrapassa todas as medidas da lógica, do bom-senso e, sobretudo, da ética.
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Uma conhecida universidade vem veiculando, há algum tempo, anúncios em jornais, revistas, rádio e TV, nos quais apresenta o testemunho de ninguém menos que “o rei do futebol”, que parece ter sucumbido ao apelo fácil e inconsistente da responsabilidade social empresarial, ao aprovar um programa em que a tal universidade realiza ações que possibilitam maior acesso à educação, por meio de descontos nas mensalidades de diversos cursos que promove, em especial, para alunos transferidos de outros centros de ensino.
Fica a pergunta: desde quando falta de alunos e interesses puramente comerciais podem ser usados como propósito social? A quem essa universidade pretende enganar? Será esse o exemplo que ela costuma multiplicar a seus alunos? Se for assim, pobre país, pobre dos brasileiros! Os professores e executivos – porque as escolas são, atualmente, mais empresas do que instituições – dessa universidade deveriam se preocupar um pouco mais com a qualidade do ensino, a formação ética de seus alunos, a multiplicação de bons valores e exemplos e, também, com a imagem projetada à sociedade que, felizmente, está mais atenta a todas as atitudes das organizações, avaliando suas reais intenções.
Quanto às personalidades que costumam emprestar seu prestígio para campanhas publicitárias, deveriam preservar um pouco mais sua história e seguir o belo exemplo da atriz Letícia Sabatella que, em recente entrevista à revista TPM, declarou: “Não dá para vender sabonete num dia e, no outro, dizer para as pessoas olharem uma questão da sociedade. Como elas vão acreditar plenamente no que eu disser?”. É uma pena que nem todos possuam essa consciência e responsabilidade.
Diante desse exemplo, só resta a conclusão de que os valores e a ética das organizações devem ser revistos o quanto antes. Mais do que isso, elas precisam ser cobradas pela sociedade, de forma incisiva, pelo fato de atirar o Brasil a um lamaçal que, por certo, afogará no futuro nossos ? lhos e netos, legando-lhes um mundo que, de? nitivamente, não foi o que sonhamos e que muitos, vocacionados, verdadeiramente, tanto lutam para melhorar e (re)construir.