Amigos de verdade

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Março 2003 - 00h00
Nesta edição, apresentaremos uma organização social que desenvolve iniciativas em uma seara ainda repleta de dúvidas e incertezas. Apesar disso, ao conhecer este trabalho, ficamos certos de que a somatória dos esforços certamente está colaborando para amenizar as dificuldades de um grupo que, no Brasil, segundo estimativas, já ultrapassa a casa dos cem mil cidadãos: os autistas. Esta incursão nas organizações vem deixando cada vez mais clara a importância de alguns ingredientes na fórmula ideal para atingir o sucesso no alcance dos objetivos sociais. Dedicação, aprimoramento contínuo e profissionalização, permeados com amor à vontade, certamente compõem a parte fundamental desta receita.

A organização em pauta é a AMA – RP (Amigos do Autista de Ribeirão Preto), situada na conhecida “Califórnia brasileira”, cidade rica, cercada de canaviais e, conseqüentemente, por usinas de álcool e açúcar. Além disso, essa localidade ganhou ainda mais notoriedade por ser o berço de um dos braços fortes do governo Lula, o ministro da Fazenda Antônio Palocci. A AMA – RP foi fundada em 1988, tratando-se de uma entidade educacional, terapêutica e clínica, de utilidade pública municipal, estadual e federal, sem fins lucrativos, com o objetivo de criar programas educacionais de adaptação e integração social a crianças autistas. Quisera os temas relacionados ao autismo tivessem uma pequena parcela do espaço dedicado diariamente às atuais questões macroeconômicas, lideradas pelo ilustre cidadão ribeirão-pretano. Com a multiplicação de informações, com certeza, o trabalho desta entidade e de outras renderiam resultados ainda mais proveitosos.

Utopia à parte, para entender a importância das iniciativas empreendidas pela organização, vale apresentar alguns conceitos que norteiam a sua razão de existir (veja o box ao lado). Cientes das características pertinentes aos autistas, a AMA – RP atua oferecendo atendimento a 44 alunos, divididos em duas turmas de meio período cada, agindo principalmente em duas frentes: educação e orientação. Fica clara a intenção da organização de promover resultados consistentes e duradouros, tanto para o atendido quanto para seus familiares, personagens fundamentais para o bem-estar do autista. Também ocupam papéis decisivos no palco do atendimento aos autistas os colaboradores da AMA-RP, que possui um quadro com funcionários, estagiários bolsistas e voluntários, formando uma equipe interdisciplinar. Profissionais de diversas especialidades, entre elas psicologia, psiquiatria e fonoaudiologia, os quais trabalham de forma remunerada na organização, realizando o necessário trabalho de acompanhamento dos atendidos. Além dos funcionários, a organização conta com estagiários de psicologia e pedagogia, além do providencial auxílio dos voluntários que dedicam seu tempo, carinho e conhecimento como musicoterapeutas e professores.

A organização possui uma série de programas, exercitados e repensados constantemente, para atingir, com o maior grau de eficácia e eficiência, os objetivos propostos. E esta preocupação com a reciclagem do conhecimento dos colaboradores, assim como a constante comunicação das conquistas aos interessados, faz com que os resultados sejam multiplicados. Não nos cansamos de eleger a capacitação como um dos pilares fundamentais no alcance da excelência na prestação dos serviços sociais. Felizmente, o número de palestras, cursos e seminários de qualidade vem aumentando significativamente, ao mesmo passo em que seus custos tornam-se mais acessíveis, além daqueles oferecidos gratuitamente. Isto sem contar os outros meios de informações, como revistas e a internet, ferramentas de conhecimento cada vez mais democráticas.

Ao observar os programas de atendimento da AMA – RP, fica evidente a preocupação com a atualização de suas ferramentas. Então, vamos conhecê-las: primeiramente, existe uma avaliação e diagnóstico da pessoa especial; em seguida, é realizado o atendimento educacional, terapêutico e clínico para as pessoas portadoras de autismo. Neste ponto, é importante deixar claro quais são as medidas importantes para garantir o sucesso do atendimento. Um trabalho interdisciplinar e bem estruturado deve ser iniciado logo que se tem o diagnóstico da criança, ao mesmo tempo em que começa o trabalho de esclarecimento, orientação e apoio familiar. Quanto mais cedo começar o processo educacional e terapêutico com bons profissionais, maiores as chances desta criança vir a se tornar um adulto mais funcional, feliz, integrado à sociedade e ao trabalho. Os procedimentos educacionais para autistas precisam ter como princípio a integração, a funcionalidade, a produtividade e a independência. As propostas educacionais devem explorar o uso de recursos auxiliares, em que cada área deve ter um programa geral e cada aluno segue um programa individual. A educação altamente estruturada, voltada para o desenvolvimento de habilidades, tem se mostrado muito eficiente em todo o mundo e, também, na AMA-RP, onde existe um direcionamento para desenvolver ao máximo as habilidades sociais, funcionais e de linguagem.

Também fazem parte do trabalho interdisciplinar os atendimentos de fonoaudiologia e musicoterapia, além do atendimento psicológico que é feito por orientação de professores de psicologia da USP à coordenadoria técnica da AMA-RP. A avaliação clínica dos alunos, bem como o controle medicamentoso (daqueles que fazem uso de medicamentos) é feita pela psiquiatra que atende na AMA-RP, ou outro profissional que a família prefira. E por falar em família, mensalmente, existe uma reunião com a coordenadora técnica para discussão de questões relacionadas ao autismo, bem como o recebimento de orientações específicas sobre seu filho, além de uma produtiva sessão de troca de informações. Quanto mais envolvidas as famílias estiverem com o trabalho realizado na AMA-RP, mais eficaz será o tratamento. Algumas mães (que optaram por este atendimento) fazem terapia de grupo ou individual com psicólogo. Há inclusive uma oficina de artesanato, onde parte das mães desenvolve suas habilidades artísticas, ampliando a sua relação com a organização.

Conforme citamos anteriormente, é fundamental que as organizações sociais que trabalhem com este objetivo social, assim como outras com objetivos semelhantes, desenvolvam atividades de esclarecimento da população, buscando apoio e expandindo o conhecimento sobre a importância de suas iniciativas. A AMA-RP preocupa-se em fazer e distribuir folhetos, folders e tablóides que falam sobre o autismo, com o intuito de esclarecer a população sobre este intrigante tema.

Dentro da proposta de criar condições para o desenvolvimento dos autistas, a organização mantém, internamente, oficinas ocupacionais e profissionalizantes, inserindo-os e tornando possível sua participação na sociedade de forma produtiva. São oferecidas oficinas de montagem de cadernos, cadernetas e agendas, oficinas de silk screen, além de oficinas de Cartões de Natal. Os materiais produzidos por estas oficinas são vendidos, tendo a sua renda revertida para as atividades da entidade. E por falar em captação de recursos, conhecido desafio das organizações, identificamos, na AMA-RP, uma estratégia interessante de diversificação das fontes. Parte dos recursos vem de convênios com as secretarias de educação; outra parte vem de uma relação de sócios-contribuintes (daí a importância de comunicar sobre as atividades da organização). Além destas fontes de captação, são realizados diversos eventos, os quais contam com o providencial apoio de uma motivada equipe de voluntários.

Um último, porém não menos importante, assunto: a organização faz questão de informar que publica o seu balanço social todos os anos, através de um jornal. Ponto para a AMA-RP, que deixa claro, com esta ação, que desenvolve seu trabalho e aplica seus recursos com transparência, incentivando seus colaboradores a continuarem ajudando, além de tranqüilizar aqueles que estão começando a participar.

Como dissemos no início, o tratamento destinado ao autista ainda possui uma série de dúvidas a serem respondidas. Crianças, adolescentes e adultos de um olhar expressivo, merecem todo o esforço das pessoas que dedicam o seu tempo à sua educação e socialização. Ao menos uma certeza podemos extrair: a equipe da AMA-RP tem um forte compromisso com seu objetivo social, buscando sempre a melhor forma de se relacionar e amenizar as dificuldades desses atendidos tão especiais.

O autismo

Toda tentativa de definição do autismo tem início na primeira descrição dada por Leo Kanner em 1943 no artigo intitulado: “Distúrbios autísticos do contato afetivo”. Eram chamadas autistas as crianças que apresentavam inaptidão para estabelecer relações normais com o outro e um atraso na aquisição da linguagem e comunicação. Em 1976, vários cientistas e estudiosos do tema se reuniram e criaram uma definição inicial baseada em dados científicos da época. A saber: “autismo é uma inadequação no desenvolvimento, que se manifesta de maneira grave, durante toda a vida. É incapacitante e seus sintomas aparecem tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de cinco entre cada dez mil nascidos e é quatro vezes mais comum entre os meninos. É uma enfermidade encontrada em todo o mundo e em famílias de toda configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu provar nenhuma causa psicológica no meio ambiente dessas crianças, que possa causar o autismo.” (The National Society for Autistic Children, USA-1978).

  • Número de atendidos atualmente: 44 (outros 21 já deixaram a organização).

  • Número de voluntários: 30

  • Material produzido nas oficinas: centenas de cadernetas, agendas, cartões de Natal, cadernos.

  • Além de recursos financeiros, precisam de tintas e materiais de construção para aprimoramento de sua estrutura.

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