Aquecimento global: o que fazer?

Por: Fernando Almeida
01 Maio 2007 - 00h00
A recente divulgação do inventário do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) confirma uma advertência apresentada ao mundo há 15 anos, mais precisamente durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. A partir daquele encontro internacional, intensificaram-se os estudos sobre o processo de aquecimento global e sobre outras formas de degradação ambiental impostas por um modelo de desenvolvimento predatório e insustentável. A reversão dessa tendência é possível, mas demanda uma radical mudança no modelo
de desenvolvimento.
Aí você pergunta: se especialistas já falam isso há 15 anos, qual é a novidade? A novidade é a certeza. O estudo do IPCC desmonta, sem deixar margens para dúvida, o argumento de algumas tendências que insistiam na tese de que o aquecimento global é decorrente de um fenômeno natural ou que as inovações tecnológicas, isoladamente, encontrariam a saída para o dilema.
A revelação dos 2.500 especialistas de 130 países comprovou cientificamente que a ação humana é a responsável por impor um ritmo de degradação do ambiente mais acelerado do que a capacidade de reposição natural dos ecossistemas. O impacto dessa certeza na opinião pública foi imediato. O interesse da sociedade é diretamente proporcional à imensa culpa que desabou sobre nós. É verdade. Estamos mesmo acabando com o planeta.
Passado o primeiro momento de susto e penitência, precisamos urgentemente partir para medidas práticas. Enquanto você lê esse artigo, a concentração de CO2 na atmosfera continua aumentando e não dá sinais de sequer estabilizar. Precisamos de um esforço de governos e empresas no sentido de implementar, já, medidas para estabilizar a concentração de CO2 na atmosfera em cerca de 550 ppm (partes por milhão) até 2050. É uma meta ambiciosa que significa gerar cada dólar do produto mundial bruto com metade da energia que consumíamos em 2002, aumentando a eficiência econômica em 1,5% ao ano, uma taxa 20% superior à obtida nos últimos 30 anos.
E mais: será preciso que a emissão de carbono pelas atividades de geração de energia seja 45% menor do que foi em 2002, isto é, reduzir pela metade a taxa de emissão de carbono dos últimos 30 anos. Essas projeções fazem parte de um estudo publicado ano passado pelo Conselho Empresarial Mundial (WBCSD), que coordena uma rede de 50 conselhos nacionais, da qual o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) faz parte.
Criada em 2000 pelo Cebds, a Câmara Técnica de Energia e Mudança do Clima (CTClima) vem ajudando as empresas a gerenciar o impacto de suas atividades, aproveitar novas oportunidades de mercado e minimizarem seus riscos. A CTClima integrou a delegação brasileira em várias Conferências das Partes da ONU e tem auxiliado as empresas a implementar mecanismos de diminuição de emissão de gases estufa.
Porém, para atingirmos as metas globais citadas no estudo do WBCSD, será preciso, entre outras medidas, que, em 2025, as termelétricas a carvão estejam em processo acelerado de implantação de tecnologias de captura e armazenamento (TCA) de carbono. Também será necessário que as usinas nucleares existentes sejam renovadas, que sua capacidade atual seja ampliada em 30% e que 6% da energia gerada venha de fontes renováveis, incluindo a hidráulica. Para 2050, por exemplo, as energias geradas por fontes alternativas precisam crescer 160 vezes.
Algumas soluções já estão sendo adotadas pelo mercado, como exemplo a fabricação de veículos com alta eficiência energética. A Toyota caminha para se transformar na maior montadora mundial porque percebeu precocemente a tendência e lançou os carros híbridos. No Brasil, os modelos flex são sucesso já adotado em grande escala. São bons exemplos, mas não são o bastante. As metas para 2050 exigem uma mudança mais profunda, seja no desenvolvimento de novas tecnologias, como a utilização de combustíveis à base de hidrogênio e biomassa, seja na mudança de velhos hábitos da população, como o uso em massa do transporte coletivo.
É inegável que todo esse esforço exigirá mudanças imediatas na infra-estrutura urbana e no comportamento de todos nós. Os edifícios inteligentes demonstram ser possível reduzir o consumo de energia em 90% com a adoção das tecnologias à base de LED’s (diodos emissores de luz). O uso sustentável da energia inclui ainda reduzir, reusar e reciclar, tanto no plano doméstico como no setor produtivo.
A arborização próxima a edifícios, por exemplo, reduz em 6º C a temperatura no verão, o que representa menos gasto com ar condicionado. A necessidade de sobrevivência precisa mudar a cara das cidades e os hábitos dos cidadãos. Para sobreviver, vamos precisar fazer muito mais do que separar o lixo e fechar a torneira enquanto escovamos os dentes.
A boa notícia é que são cada vez mais comuns exemplos como o da Plantar, que, com um projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), diminuirá a concentração de CO2 na atmosfera em aproximadamente
12,8 milhões de toneladas dentro dos próximos 25 anos. Em 1998, quando quem falava sobre aquecimento global era taxado de alarmista e “ecochato”, a petroleira BP se auto-impôs uma redução de 10% nas suas emissões previstas para os 12 anos seguintes. Deu tão certo que as metas foram atingidas já em 2001.

As metas para 2050 exigem uma mudança mais profunda, seja no desenvolvimento de novas tecnologias, como a utilização de combustíveis
à base de hidrogênio e biomassa, seja na mudança de velhos hábitos da população, como o uso em massa do transporte coletivo


A gigante produtora de alumínio Alcoa também não esperou e adotou voluntariamente metas de redução de emissão de 25% entre 1990 e 2010. A empresa ampliou sua credibilidade e reputação no mercado a ponto de fazer gestões junto ao governo Bush para que este assuma uma posição mais coerente com os anseios da sociedade. O papel das empresas é apresentar soluções para incluir a preservação dos recursos naturais nas suas atividades e transparência na comunicação de ações e resultados. O da sociedade consumidora é exigir isso.
Esses e outros bons exemplos merecem crédito, mas não podemos nos satisfazer com ações ou iniciativas pontuais, por melhores que sejam. Precisamos de muito, muito mais. Mais agilidade, mais escala, mais comprometimento, maior pressão da sociedade em cima de governos e empresas. O governo brasileiro deu um passo importante ao anunciar a nomeação de um embaixador do clima, mas precisa ampliar ainda mais o espaço nos fóruns de tomada de decisão, garantindo assento ao setor empresarial na Comissão Interministerial de Mudanças do Clima.
A reversão da curva do aquecimento global passa por uma grande articulação, integrada e transparente, entre governos, empresas e sociedade civil. Cada decisão deve levar em conta uma visão estratégica e produzir resultados que tragam benefícios aos negócios, à sociedade e aos recursos naturais.

Fernando Almeida. Professor adjunto da UFRJ e do MBE da Coppe e presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), órgão vinculado ao Conselho Mundial (World Business Council for Sustainable Development – WBCSD).

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