Artigo Especial

Por: Eduardo Magalhaes
01 Março 2011 - 00h00
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Artigo Especial

Pela primeira vez nos últimos 10 mil anos, a humanidade pode satisfazer a necessidade alimentar de todos. Contudo, as previsões menos catastrófi cas demonstram que a cada seis segundos uma criança morre de fome no mundo. Seis segundos. Ao total, são 925 milhões de crianças, homens e mulheres que acordam e dormem todos os dias com fome. Por incrível que possa parecer, o cenário era ainda mais grave, pois pela primeira vez em 15 anos o número de pessoas com fome no mundo caiu. É isso o que informa o Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
A causa da fome está na falta de dinheiro para comprá- los. Como na sociedade capitalista os alimentos também são mercadoria, somente pode obtê-los quem pode pagar. Mesmo que estejam sobrando. A fome tende a se aprofundar na medida em que os preços mundiais dos alimentos batem recordes consecutivos de alta nos últimos meses. Segundo a revista The Economist, os alimentos estão com os preços mais altos desde 1984. Relatório publicado em fevereiro pelo Banco Mundial revela que os preços dos alimentos continuam a subir. Entre outubro de 2010 e janeiro de 2011, aumentaram 15%. O aumento dos preços ocorreu
principalmente com os alimentos básicos: trigo, milho, açúcar e óleos comestíveis. O que não poderá ocorrer em 2050 com 9 bilhões de bocas se a situação já é calamitosa com uma população mundial de quase 7 bilhões? A produção de alimentos terá de aumentar 70% para acompanhar o aumento da população. Caso contrário, a estimativa é de que haja 3 bilhões de famintos no mundo.

Causas da Fome
Essa situação pode ser agravada pelas mudanças climáticas, falta de água, aumento da demanda por fertilizantes e estagnação econômica, haja vista que a fraca e lenta recuperação mundial da última crise fi - nanceira pode ser difi cultada ainda mais pela situação política no Oriente Médio, devido à elevação nos preços do petróleo.
Obviamente, o fato de os alimentos serem considerados commodities globais está na raiz do problema. Isto é, os alimentos – como qualquer outra mercadoria mundial
– estão à mercê da especulação de investidores que atuam livremente visando somente lucros, especialmente em um mercado desregulamentado. Roberto Graziano, ex-ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome, indicado por Dilma para presidir a FAO, afi rma ser necessário regulamentar o mercado global de commodities para evitar a “fi nanceirização” da fome.
Ou seja, para diminuir a possibilidade de especulação na compra e venda de alimentos, grandes multinacionais e fundos mundiais aumentam ainda mais os preços quando eles estão em alta, e aceleram as baixas quando os preços estão em queda – o que pode levar agricultores à ruína e à consequente diminuição da produção; por outro lado, garante os lucros estratosféricos aos grandes especuladores. Segundo artigo de John Vidal, no The Observer, a atual epidemia de fome tem sido causada pelos mesmos bancos e fundos de investimento de risco que foram os responsáveis pela última crise fi nanceira global a partir da especulação junto às hipotecas de alto risco (sub-prime).

Fome na Superpotência
Nos Estados Unidos, mais de 42 milhões de cidadãos dependem de ajuda do governo para não passarem fome – trata-se do food stamps. Mesmo assim, Obama reservou 708 bilhões de dólares para fi nanciar a guerra no mundo em 2011. Concomitantemente, a superpotência é o país mais obeso do mundo, e a taxa de mortalidade infantil é maior do que em Cuba. Contradições que precisam ser resolvidas.

Medidas mundiais necessárias
Políticas sociais: programas de transferência de renda direcionados à alimentação, como o “Oportunidades”, do México, e o “Bolsa Família”, do Brasil, que conseguiram uma substancial diminuição da fome. No Brasil, o programa Bolsa Família, muito criticado pela oposição, salvou da fome 12,8 milhões de famílias em 2010. Além disso, foi elogiado no último dia 4 de fevereiro por delegação do governo do Canadá como modelo em gestão.
Em nosso caso, o recebimento do benefício está vinculado à manutenção da criança na escola e acompanhamento básico da saúde. Remoção de barreiras comerciais e cortes de subsídios: isso possibilitaria um aumento da produção e exportação de alimentos pelos pequenos agricultores. Como exemplo, citamos o Brasil, onde a agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos consumidos no país. A agricultura familiar é fundamental não só para a diminuição da fome por meio do consumo dos alimentos que produz, mas também porque melhora a situação social no campo. Desde 2003 até hoje houve uma ampliação de 72% da classe média rural (3,7 milhões de pessoas), com aumento médio de 30% da renda.
Atualmente, mais de 4,3 milhões de famílias vivem da agricultura familiar. A agricultura familiar também tem servido aos programas sociais de alimentação de estudantes, doação a entidades assistenciais, regulação e recomposição de estoques estratégicos, entre outras políticas públicas que visam acabar com a fome. Pesquisa: A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem contribuído para a redução da fome no Brasil e também, mais recentemente, em outros países. Desde 2010, tornou-se uma organização internacionalizada, atuando nos Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Venezuela, Panamá e, principalmente, em vários países africanos: Gana, Moçambique, Mali e Senegal. Sua atuação tem possibilitado efetivamente a melhoria da produtividade (planejamento agrícola, uso das terras, melhoramento genético), diminuição do desperdício, melhoria da gestão agropecuária, sustentabilidade etc. Seus inúmeros programas e projetos têm obtido grande reconhecimento mundial. Aliás, uma maior parceria entre a organização brasileira e a FAO poderia difundir ainda mais pelo mundo as ideias de sucesso no combate à fome.

Slow Food
É um movimento mundial que não só se contrapõe ao fast food, mas também busca resgatar as culinárias regionais e questionar o ritmo convulsivo de nossas vidas.
Contesta igualmente a falta de interesse das pessoas em saber de onde se origina e como foi produzido o alimento consumido – nisso se incluem as formas de trabalho e a relação com a natureza para a elaboração do que se come. Hoje, o costume de toda família em se sentar à mesa para as refeições e ingerir alimentos caseiros está se acabando. Comemos desesperadamente assistindo à “excelente” programação da televisão.
Essa situação difi culta o diálogo e o convívio familiares. Come-se mal, vive-se pior ainda. Conclusão: uma parte da humanidade não come nada, a outra come muito e mal, daí a obesidade com suas nefastas consequências para a saúde.
A saída não é impossível e está ao nosso alcance. Cada um de nós pode começar de forma simples e imediata: abolir refrigerantes, gordura, fritura, açúcar, alimentos industrializados, entre várias outras “bombas” que jogamos diariamente para dentro de nosso corpo, e ainda ensinamos nossos fi lhos a fazê-lo.
Alimentos naturais, como frutas, legumes e verduras, normalmente são muito mais baratos do que os que nos fazem mal. Desligar a televisão, além de fazer bem à inteligência, também contribui para a reunião em família durante as refeições. São esses momentos preciosos que devemos cultivar. São atos básicos e de baixíssimo custo. Fazendo nossa parte, teremos mais razão para exigir dos governos e das empresas uma mudança. Por que você não começa hoje?!

 

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