Multiplicador de esperança

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Janeiro 2003 - 00h00
Determinação e aprendizado contínuo. Dentro da riqueza da língua portuguesa, julgamos adequado começar a falar sobre a AdefAV a partir dessas características. Até porque são elas que vêm fazendo a organização trilhar um caminho marcado por conquistas. Desde o primeiro momento, na sala de um médico que cumpria um papel de orientação ao grupo que iniciou a história, até hoje, adequadamente instalada em uma sede própria de dois mil metros quadrados, a organização mantém bastante nítidos os ingredientes necessários para conduzir o seu trabalho a um nível cada vez mais elevado. Felicidade dos atendidos, felicidade de todos os envolvidos. A Revista Filantropia, por intermédio do Canto Cidadão, fez visita à nova sede da AdefAV e conversou com uma das fundadoras da associação, que apresentou a estrutura e relatou os passos trilhados ao longo dos 19 anos de existência da Associação para Deficientes da Áudio Visão.

Assim como manda a matemática, se voltarmos 19 anos no tempo, chegaremos ao ano de 1983, data na qual um grupo de profissionais colocou em movimento um projeto voltado para a educação de portadores de surdocegueira. A razão: uma latente necessidade social visualizada pelo grupo, uma vez que aqueles que necessitavam desse especializado atendimento contavam com pouquíssimas alternativas devidamente preparadas para a difícil tarefa em questão. Assim, psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos e assistentes sociais se reuniram para criar um espaço de atendimento.

Exercitando sua rede de contatos, o grupo conseguiu, com a Igreja Presbiteriana, um modesto espaço em Santo André, cidade vizinha a São Paulo. Os 30 m² que formavam o local foram palco do início das atividades da AdefAV, que voluntariamente começou a prestar atendimento a um pequeno grupo de crianças. Conforme o trabalho se desenvolvia, os desafios visitavam a organização: a falta de espaço não permitia a ampliação do atendimento e a distância afastava os profissionais que se interessavam pela causa. Mas, mesmo durante esses momentos, o norte estava claro para aqueles que persistiam: era necessário, acima de tudo, aprimorar os conhecimentos relacionados ao serviço prestado. Isso em função da criticidade e da especificidade envolvidas na condução do seu objetivo social.

Aproximadamente um ano depois, contando com a providencial ajuda de uma voluntária doadora, a organização conseguiu se mudar para uma casa no bairro da Aclimação, na capital paulista, adquirindo mais espaço para solidificar a sua atuação. No período em que esteve nesse local, ainda bem simples, a AdefAV conseguiu evoluir muito, alcançando títulos de utilidade pública. Mas as principais conquistas vieram do reconhecimento e do respeito dos envolvidos e interessados na questão. Hospitais e organizações sociais começaram a enviar pacientes para o tratamento especializado, a saber: Apae, USP, AACD, Hospital das Clínicas, PUC-Derdic, EPM e setor de subvisão da Santa Casa. E o relacionamento com essas instituições não se limitava apenas a receber ou encaminhar pacientes. A AdefAV oferecia e ainda oferece oportunidades de estágio para alunos interessados em conhecer melhor as questões relativas à surdocegueira. Configurava-se mais uma característica marcante da organização: multiplicar os conhecimentos adquiridos, por meio de capacitação e orientação de novos profissionais.

O calendário apontava o ano de 1992 e a AdefAV estava de mudança para uma nova sede, agora no bairro do Cambuci. Nesse período, foi conquistado um grande reforço: a parceria com o programa Hilton/Perkins para a América Latina, da Perkins School for the Blind, escola estadunidense que é referência mundial para o ensino voltado aos surdocegos. Os subsídios teóricos dessa parceria vêm elevando cada vez mais a competência técnica do trabalho desenvolvido pela AdefAV. Desde o princípio, existe o intercâmbio de profissionais, com o compromisso assumido de espalhar esse conhecimento ao maior número de pessoas possível.

Prova disso são os treinamentos que os profissionais da AdefAV realizam em todo o Brasil, capacitando outras pessoas para uma melhor condução do tratamento do surdocego. Bom para todos, especialmente para os atendidos, que a cada dia recebem um tratamento mais eficiente e com resultados visíveis. Nessa sede, o atendimento alcançou 80 portadores de surdocegueira, com mais, pelo menos, duas dezenas de alunos ainda na fila de espera. Era urgente a ampliação do espaço e da estrutura, uma vez que a necessidade social era latente e batia à porta da AdefAV. Apenas um detalhe: para atingir esse objetivo, era preciso captar recursos, cadafalso de muitas iniciativas.

E, por falar em captação de recursos, vale ressaltar que, nessa área, a organização passou do improviso e da reatividade para o profissionalismo pró-ativo, alcançando os resultados necessários. Partindo de um início sustentado exclusivamente por voluntários e colaborações pontuais, passando pelos convênios municipais e estaduais (ainda existentes) até o estágio atual, exemplificado pela conquista de um apoio internacional para a construção de uma sede própria, além de outros apoios para a aquisição de equipamentos e móveis, fica claro a preocupação em mostrar competência e capacidade para avançar nas iniciativas.

Nova sede

E como esse espaço tem como objetivo relatar ações e experiências que possam servir como referências positivas para outras organizações, sentimo-nos compelidos a contar como se deu a conquista da sede própria e atual da AdefAV. Nesse processo, a participação da mãe de um ex-aluno, atual secretária-executiva, foi fundamental, uma vez que foi ela quem fez a aproximação entre o potencial parceiro e a instituição. Ao tomar conhecimento do interesse de uma fundação alemã em causas relacionadas à deficiência física e mental, inclusive no Brasil, um projeto completo e detalhado foi submetido para apreciação dos alemães.

A partir de então, uma seqüência de passos muito construtivos foi dada. A relação estabelecida com o parceiro alemão foi e ainda é marcada por características bastante peculiares e difíceis de serem encontradas no atacado, mas que devem ser perseguidas como meta. Para se ter uma idéia do nível de envolvimento entre as partes, o interlocutor da fundação alemã participou ativamente da construção do novo prédio, desde a escolha do terreno, dos engenheiros e dos arquitetos até a opção por trazer, da Alemanha, um tipo de piso considerado ideal para os objetivos da organização.

Alguns podem considerar intrusiva essa forma de participação de um parceiro, mas a realidade é que, ao se aliar a alguma instituição apoiadora totalmente alinhada com seus objetivos sociais, crescem sobremaneira as chances de alcançar resultados muito satisfatórios. E a sede atual da AdefAV é prova do sucesso de uma parceria que deu certo. Planejada e preparada em cada detalhe para dar o melhor atendimento ao público-alvo, o novo espaço está preparado para conduzir a organização a um estágio ainda mais evidente de referência em sua área de atuação.

Esse episódio de suma importância para a organização revela itens que não podem ser ignorados: o relacionamento contínuo e produtivo com os colaboradores, desde familiares de atendidos até ex-voluntários ou conselheiros. Investir na rede de relacionamentos é ótima ferramenta de acesso a fontes de recursos e fiéis colaboradores e divulgadores da causa. Outro ponto que precisa ser ressaltado é o direcionamento de esforços de captação com fontes que tenham afinidade com as suas iniciativas, aumentando as chances de conseguir um apoio financeiro, mas também de conhecimento e experiência, multiplicando o resultado da parceria.

Seguindo a apresentação da AdefAV, identificamos uma correta forma de lidar com a captação de recursos. A conquista da nova sede é um exemplo óbvio disso, mas as outras táticas também se mostram bastante adequadas. A diversificação da captação se dá por meio de convênios na esfera municipal e estadual, relacionamento com sócios contribuintes e apoio financeiro dos pais de alunos que possuam condições para tal.

Os recursos também são captados com a realização de eventos e com a manutenção da parceria com a fundação alemã, que continua dando suporte a AdefAV com a contratação de um grupo de consultores que avalia as potencialidades da organização. Além dessas fontes de recursos, são realizados projetos específicos a serem apresentados para potenciais apoiadores. Assim, as empresas interessadas podem ficar responsáveis pela montagem e manutenção da biblioteca ou brinquedoteca, por exemplo.

Transformar vidas não é tarefa simples, especialmente quando estão em cena crianças e adultos tão especiais quanto os portadores de surdocegueira. Conduzi-los a uma vida plena, levando-os ao desenvolvimento máximo de suas potencialidades, para que conquistem a cidadania por meio de ações na família, na escola e na sociedade, são desafios diários da AdefAV. Assim como em muitas outras causas sociais, esse trabalho precisa, especialmente, de dedicação ao conhecimento do assunto.

O atendimento alcançou 80 portadores de surdocegueira, com mais, pelo menos, duas dezenas de alunos ainda na fila de espera

Afinal, em um campo tão delicado, não há espaços para experiências ou testes. É preciso buscar capacitação e reciclagem continuamente. E esse foi e ainda é o grande investimento que a AdefAV faz, garantindo a qualidade do resultado final e persuadindo pessoas, empresas e instituições a apoiarem com confiança a sua causa. Somado ao poder de transformação social, está a crença na necessidade de sua existência, a transparência total com relação aos recursos aplicados e muita vontade de, como já falamos, transformar vidas. Exemplos não faltam nesses 19 anos, provas vivas e incontestes do sucesso dessa organização.

Saiba mais

A surdocegueira não é a somatória da surdez com a cegueira, mas uma deficiência única e exclusiva. Atender pessoas surdocegas requer metodologias próprias, ainda pouco conhecidas por diversos segmentos da sociedade. O surdocego, devido aos sérios problemas que as deficiências sensoriais (visual e auditiva) acarretam, pode não desenvolver comunicação, tornando-se isolado da família e da comunidade. Juntamente com essa educação inclusiva, faz-se necessário um acompanhamento médico freqüente.

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