O valor de uma pergunta

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Julho 2004 - 00h00

Dentro do processo convencional de comunicação, normalmente, a resultante de uma pergunta é uma resposta, ainda que evasiva ou incorreta. Exceções, entretanto, acontecem, fazendo com que uma pergunta gere uma reação, potencial fio condutor de um conjunto de ações. Um exemplo aconteceu há aproximadamente quatro anos, quando a professora Jackeline Silva ministrava uma aula para alunos do ensino médio do Colégio Energia, localizado na cidade de Araranguá, município a 240 quilômetros da capital catarinense.

Em busca da resposta

A aula era de atualidades e o tema abordado era a respeito dos problemas ambientais no mundo. Ao final dos trabalhos, um aluno disparou uma pergunta intrigante à professora, questionando de que forma poderia ajudar efetivamente a mudar aquela situação. Os momentos seguintes foram marcados por um certo constrangimento, pois 50 alunos esperavam uma resposta da professora, que não a tinha. A saída foi pedir um tempo para a turma, a fim de que o intervalo até a próxima aula pudesse trazer mais clareza ao assunto. “Passei realmente vários dias aborrecida e preocupada com aquela pergunta”, comenta Jackeline Silva.

Na semana seguinte, a professora se dirigiu aos alunos de forma franca, dizendo que a resposta só poderia ser construída com a ajuda de todos. Partiram, então, em busca dos problemas ambientais que mais incomodavam a própria região. A descoberta veio acompanhada pela unanimidade: o elevado número da mortandade de animais marinhos na praia do Arroio Silva, localizada a apenas nove quilômetros da escola, no Balneário Arroio do Silva. Aquilo era de fato urgente, especialmente em função da ausência de perspectiva de mudanças.

Motivados pela descoberta de uma latência sócio-ambiental a seu redor, o grupo começou a agir. Depois de um pedido feito à prefeitura municipal, um mutirão foi formado para a limpeza de uma área anteriormente utilizada por um clube, com particular atenção a duas grandes piscinas abandonadas. Foram dias de exaustivo trabalho, com a retirada de dez caminhões de lixo. Conquistou-se ainda uma pequena casa instalada nas áreas das piscinas. A resposta àquela dúvida estava em processo ininterrupto de construção.

Fortalecendo o ideal

O próximo passo foi perceber que um grupo com boas intenções não era suficiente para fazer a diferença na questão da violência contra animais marinhos naquele local da costa catarinense. “Com a ajuda de um professor de biologia, Geraldo Cardoso Sobrinho, o nosso objetivo ganhava um nome: Associação Olhos da Natureza – Projeto Reamar”, conta Jackeline, que assumiu o cargo de presidente da organização. A partir daí, novos profissionais passaram a solidificar o trabalho, como os veterinários Ingrid Rosso e Rodrigo dos Santos, que realizaram um estágio no CRAM (Centro de Reabilitação de Animais Marinhos) da cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. “O conhecimento trazido pelos profissionais é fundamental para determinar os métodos, posturas e cuidados que devemos ter. Afinal, lutamos pela vida, e contra os crimes. De cidadãos passivos nos tornamos agentes atuantes”, lembra a presidente.

A meta principal da organização é resgatar, reabilitar e repor animais marinhos que chegam no litoral precisando de ajuda. Nesses 3 anos de existência (completados em julho deste ano), o projeto já recuperou e soltou aproximadamente 200 animais, dentre eles lobos e leões marinhos, pingüins de Magalhães e aves oceânicas. Além disso, a associação contabiliza inúmeros acompanhamentos na orla marítima e atendimentos locais, sem necessidade de resgate. De acordo com Jackeline, o número de salvamentos já poderia ser bem maior. No entanto, no primeiro ano do projeto, de cada dez animais que chegavam ao Reamar, oito estavam baleados, esfaqueados ou espancados, praticamente em fase terminal. “Quando o estado do animal não é tão lastimável, como os casos de infecção intestinal, hipotermia, baixo peso ou fraqueza, o índice de salvamento é praticamente total, se o resgate é feito com agilidade”, informa ela.

O perigo mora em terra firme

Um caso ocorrido no final de 2001 deixou claro que o trabalho de salvamento e conscientização promovido pelo projeto Reamar começava a incomodar. Na oportunidade, a organização foi chamada pela polícia militar para dar assistência a um filhote de lobo marinho que havia sido esfaqueado e enterrado ainda com vida. O culpado foi detido, mas o animal não resistiu. Era o primeiro aviso. Poucos dias depois, na noite de Natal, um velho lobo marinho foi assassinado brutalmente dentro da piscina do Reamar. Mais uma advertência de que a associação seguia além do permitido. “O ano, que havia sido de grande sucesso para todos nós, terminou de forma trágica. Descobri que os mais perigosos predadores não estavam no mar, mas sim na terra.”

Apesar do mal-estar imediato, a ameaça parece ter suscitado efeito contrário, uma vez que o projeto tem crescido desde então, tendo como maior desafio a captação de recursos. Nos primeiros dois anos, o projeto Reamar foi mantido com recursos próprios da professora Jackeline Silva. A partir do momento que o trabalho ganhou credibilidade, o Ministério Público de Criciúma passou a enviar um recurso anual obtido por intermédio de multas ambientais.

Além disso, empresas, como a Vida Marinha, produzem camisetas e adesivos para comercialização em prol da organização, e alunos do Colégio Energia das cidades de Araranguá, Criciúma e Tubarão colaboram com doações de materiais de primeiros socorros e medicamentos. “Este ano estamos trabalhando mais na captação. Inscrevemos projetos para conseguir patrocínios e temos também recorrido a mais empresas. Mas é preciso deixar claro que ONGs dirigidas de forma inescrupulosa, que desviam verbas públicas e formam a verdadeira máfia verde, atrapalham muito os programas sérios na busca de recursos”, ressalta a presidente.

Ao se tratar sobre captação, uma necessidade iminente da associação é a aquisição de uma caminhonete a diesel, pois, diariamente, são patrulhados mais de 60 quilômetros de praia, além dos resgates que precisam ser feitos em municípios distantes.

O envolvimento de estagiários e voluntários

A organização conta com a colaboração de estagiários e voluntários. Alunos que cursam biologia, veterinária, oceanografia e geografia utilizam os meses de férias para ajudar enquanto aprendem. Ainda em 2004, a Associação Olhos da Natureza pretende estabelecer parcerias para estágios com algumas instituições de ensino superior, principalmente com a Universidade Federal do Estado de Santa Catarina.

Pessoas da comunidade, estudantes e profissionais de várias profissões compõem o perfil das mais de 600 pessoas que já desenvolveram atividades voluntárias junto ao projeto Reamar.

Ampliando a capacidade de atendimento

A motivação para vencer o constante desafio da captação de recursos reside, além da manutenção das atividades, nos projetos de ampliação da estrutura, como: a construção de sede própria com piscinas, ambulatório, sala de eventos e dormitórios para estagiários e voluntários de outras cidades; a construção de um museu oceanográfico para expandir o ecoturismo, e a capacitação de “anjos do mar”, representantes dos municípios litorâneos que atuariam na identificação de animais marinhos, auxílio de primeiros socorros e proteção aos animais que estão descansando.

Valendo-se da credibilidade conquistada, dos resultados em termos de conscientização ambiental e da competência da própria equipe técnica, a organização prosseguirá empreendendo esforços para aumentar sua infra-estrutura e área de atuação.

NÚMEROS DO REAMAR
  • 3 anos de existência do projeto
  • 10 caminhões de lixo retirados da área anteriormente utilizada por um clube
  • 200 animais recuperados e soltos
  • 600 pessoas já desenvolveram atividades voluntárias junto ao projeto
  • 60 quilômetros de praia patrulhados diariamente

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