A Rosa que Nasceu sem Espinho

Eu sou uma rosa. Diferente das outras rosas, eu não tenho espinhos. Vivo aqui neste jardim, repleto de outras rosas que têm espinho, buscando em minhas ideias entender por que eu nasci assim. Será que a natureza, que é tão perfeita aos nossos olhos, falhou ao me criar? Será que mesmo sem espinhos eu consigo ser uma rosa completa? Quer dizer, para que serve afinal este espinho, que só eu não tenho?

Resolvi, então, perguntar às pessoas que passavam por ali por que as rosas têm espinho. Passou um jardineiro, e eu perguntei: “Senhor jardineiro, por que as rosas têm espinho”? Ele me respondeu que a rosa tem espinho para se defender. Pensei então: “será que não tenho nenhuma defesa”?

Depois, veio andando tranquilo um músico, e perguntei: “por que a rosa tem espinho”? Ele respondeu: “porque Deus quis assim”! Pensei então: “será que Deus não quis que eu tivesse espinho”? Continuava com dúvidas. Nessa hora veio um professor, com um livro nas mãos, e mesmo com receio de atrapalhar sua leitura, perguntei: “professor, por que as rosas têm espinho”? Ele parou de ler, olhou para o livro, pensou um pouco e disse: “não posso responder agora, preciso pensar”! Então, comecei a raciocinar.

Enquanto pensava, veio andando por ali um artista, e perguntei: “Artista, por que a rosa tem espinho”? Ele olhou ao redor e disse: “para responder, eu teria que ser uma rosa”! Refleti sobre a resposta, e pensei: “então preciso viver mais para entender o porquê de eu não ter espinho”?

Nessa hora, senti um cheiro delicioso de bolo. Era uma cozinheira que passava, então aproveitei e perguntei: “Cozinheira, por que as rosas têm espinho”? Ela me disse que a rosa é a flor mais bela de todas, e que tem espinho para que ninguém possa tocá-la e estragar sua beleza. Naquele momento, tive uma grande revelação: se as rosas têm espinho por serem belas, então eu não era bela? Ou será que sou tão bela que somente a mim podem tocar? Foi então que passou uma mulher muito bela, e fiz a mesma pergunta a ela. Ela olhou para o lado, balançou os cabelos e respondeu: “porque elas precisam de proteção”! Do outro lado, veio uma estudante. Ela escutava música e escrevia em um caderno ao mesmo tempo. Eu pedi que ela me olhasse, já que os outros não olharam, e então fiz a mesma pergunta. Ela respondeu que as rosas têm espinho porque são fortes, e neste momento me senti vulnerável e fraca. Pensei: “Não tenho defesa! Não tenho a perfeição de Deus! Não há ninguém igual a mim! Não sou bela! E não sou forte!”.

Foi aí que pensei que talvez não fosse uma rosa como as outras. Quando passou um cientista, eu rapidamente perguntei: “Por que as rosas têm espinho”? Ele parou, olhou para as outras rosas e disse que teria que me levar para análise, e só assim poderia responder a pergunta. Eu fiquei desconfiada e não aceitei. Foi então que veio correndo uma criança, a quem também fiz a pergunta. Ela me disse que era para que ninguém me machucasse. Fiquei apavorada! Então eu estava em perigo, senti então que tinha pouco tempo. Gritei a todas as rosas: “por que as rosas têm espinho”?

Somente uma me respondeu, dizendo que também não entendia, já que mesmo com espinho os humanos arrancavam suas companheiras e elas não voltavam mais. Durante um bom tempo ninguém mais passou por ali. Depois, resolvi perguntar ao único humano que estava mais próximo de mim: “Autor, responda-me! Por que as rosas têm espinho”?

O autor refletiu sobre todas as respostas, e finalmente respondeu: “As rosas têm espinho para que os humanos entendam que as flores não nasceram para serem arrancadas, e sim visitadas. Por isso você não tem espinho, para que eu possa levar esse ensinamento.