Construções sustentáveis: conforto e respeito ao meio ambiente

Por: Fernando Credidio
01 Março 2008 - 00h00

A sustentabilidade está sendo encarada, cada vez mais, como oportunidade de negócio. Por essa razão, a oferta de imóveis ecologicamente corretos ocupa, dia-a-dia, mais espaço nos cadernos de classificados dos grandes jornais. Com freqüência, anúncios oferecem áreas verdes e parques próximos aos empreendimentos recém-lançados. Mas será que isso representa, de fato, cuidado com o meio ambiente e preocupação com a sustentabilidade? Na verdade, bem pouco ou quase nada. O fato é que muito se fala sobre construções sustentáveis, mas ainda é difícil encontrar projetos ambientalmente adequados.

Um empreendimento sustentável deve ir muito além da construção de parques e áreas verdes. O que devem ser levados em conta, isso sim, são critérios ambientais. Portanto, para ser considerado um “edifício verde”, o projeto deve minimizar impactos ambientais negativos e prever o aproveitamento dos recursos naturais, a racionalização do uso da energia e a utilização de tecnologias que permitam economia de água, entre diversos outros fatores.

Além disso, a construção civil sustentável deve fazer uso de materiais ecologicamente corretos e eficientes para promover o consumo consciente, a fim de contribuir com a redução de emissão de gases de efeito estufa durante todo o processo construtivo, prolongando-se pela vida útil da edificação.

Durante a Conferência do Clima realizada em Bali, no ano passado, representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmaram que medidas como construir casas e prédios de escritório “verdes” e instalar sistemas de iluminação que gastem energia de maneira mais eficiente podem reduzir as emissões de carbono no mundo. Segundo esses representantes, já há tecnologias disponíveis para diminuir, dramaticamente, o consumo de energia mediante pequeno custo.

Entretanto, intriga o fato de governos, empresas e proprietários de imóveis não estarem investindo em projetos menos danosos ao meio ambiente. De acordo com Kaarin Taipale, da Força-Tarefa Marrakesh de Edifícios e Construções Sustentáveis, cerca de 40% de toda a energia é consumida nos edifícios e nas construções, situação que a maioria das pessoas não percebe. O fato é que há pouco conhecimento sobre materiais e pouca consciência da parte das empresas sobre os prédios sustentáveis.

Não existe receita nem cálculo absoluto que determine o que deve ser feito ou não para que um projeto caminhe na direção da maior sustentabilidade


Recomendações básicas

O Grupo de Trabalho de Sustentabilidade da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) reuniu, em um texto simples e sucinto, os pontos entendidos como básicos na conceituação do que é uma obra sustentável, bem como os procedimentos mais imediatos que levarão a uma ação em prol da redução do impacto ambiental causado pelas obras civis.

Antes, porém, é necessário que se conheçam alguns conceitos básicos que devem nortear a elaboração de um projeto de arquitetura na busca de melhores condições de sustentabilidade. São eles:

1. A sustentabilidade não é um objetivo a ser alcançado, não é uma situação estanque, mas, sim, um processo, um caminho a ser seguido. Advém daí que a expressão mais correta a ser utilizada é um projeto “mais” sustentável. Todo o trabalho nesta área é feito a partir de intenções que são renovadas contínua e progressivamente. Intenções estas genuínas, que devem estar verdadeiramente compromissadas com os valores do cliente, a saber, o contratante, o usuário e a comunidade onde a obra esta inserida. Conhecer os valores do cliente e entender o projeto como exercício de intenções e decisões que resulta em uma obra mais sustentável. É esta a demanda da sociedade atual.

2. A sustentabilidade é baseada em três aspectos: o ambiental, o econômico e o social, que devem coexistir em equilíbrio. Como estes aspectos representam variáveis independentes, as escolhas resultantes serão diferentes em cada situação apresentada. Portanto, não existe receita nem cálculo absoluto que determine o que deve ser feito ou não para que um projeto caminhe na direção da maior sustentabilidade, sendo a proposta de cada projeto fruto de escolhas específicas, únicas e originais.

3. A busca pelo caminho da maior sustentabilidade cabe a todos os envolvidos no projeto e execução do ambiente edificado. É um trabalho coletivo (em rede) em que todos devem fazer sua parte e, ao mesmo tempo, incentivar os demais a fazê-lo. As decisões devem ser resultado de uma ação orquestrada com os projetistas, gerenciadores, consultores, fornecedores, executores e usuários, na medida em que esta escolha pode condicionar ações a serem efetivadas pelos demais.

4. A certificação entra neste processo como o reconhecimento de um trabalho desenvolvido, sem, no entanto, ser sua representação fiel. Um motivo para esta dicotomia é a não existência de processo adequado às condições regionais culturais, econômicas e físicas que permitam uma real avaliação do resultado obtido pelo esforço de tornar uma edificação mais sustentável. Os critérios de certificação, portanto, devem ser utilizados como referências auxiliares, mas não determinantes na escolha de materiais e sistemas construtivos.

5. Os princípios básicos de uma construção sustentável estão ligados às questões de:

  • Qualidade ambiental interna e externa.
  • Redução do consumo energético.
  • Redução dos resíduos.
  • Redução do consumo de água.
  • Aproveitamento de condições naturais locais.
  • Implantação e análise do entorno.
  • Reciclagem, reutilização e redução dos resíduos sólidos.
  • Inovação.
Relação dos procedimentos
Segue uma orientação para aqueles que têm a intenção de adotar a sustentabilidade como um critério de projeto, visando demonstrar quais ações básicas podem ser importantes na busca de um resultado mais sustentável, sem onerarem significativamente o custo da obra.
Uso eficiente de energia
• Especificação de equipamentos com menor consumo e melhor eficiência possível na utilização do gás natural para todos os fins.
• Automatização de transporte vertical com otimização de carga e menor consumo energético possível com a adoção de sistemas eficientes como o ADC (antecipação de chamadas).
• Iluminação de baixo consumo energético nas áreas comuns de uso contínuo, e iluminação “incandescente” com acionadores por sensor de presença nas áreas de uso esporádico ou intermitente. Este princípio, com maior tolerância, também é válido para as unidades privadas.
• Planejamento do consumo energético e utilização de equipamentos para gerar energia em períodos de pico.
• Melhor aproveitamento possível da iluminação natural, levando-se em conta a necessidade do seu controle.
• Melhor condição de conforto térmico evitando a incidência da radiação solar direta através da adoção de soluções arquitetônicas tipo brises-soleil, venezianas, telas termo-screen externas, prateleiras de luz, vidros especiais que dispensam o uso de brises etc.
• Implementação e otimização de ventilação natural.
• Adoção preferencial de acabamentos claros nas áreas de grande incidência de luz solar.
• Tratamento das coberturas do edifício, analisando a possibilidade de implementação de áreas verdes ou, caso esta solução não seja possível, utilizar pinturas reflexivas para diminuir a absorção de calor para o edifício.
• Uso de soluções alternativas de produção de energia como a eólica ou a solar, de acordo com as condições locais. A indústria brasileira está se tornando cada vez mais forte na produção de equipamentos para estes fins, tornando viáveis estes projetos.
Uso eficiente da água
• Captação, armazenamento e tratamento de águas pluviais para reutilização na irrigação, limpeza, refrigeração, sistema de combate a incêndio e demais usos permitidos para água não potável.
• Utilização de bacias acopladas e válvulas especiais com o fluxo opcional por descarga, ou de sistemas a vácuo.
• Reaproveitamento das águas de lavagem, com tratamento local, para utilização sanitária.
• Utilização de torneiras com acionamento eletrônico ou temporizador por pressão em todas as aplicações passíveis.
Uso de materiais certificados e renováveis
• Maximização na especificação de materiais sustentáveis, objetivando o maior volume possível de utilização de materiais certificados, de manejo sustentável e recicláveis.
• Planejamento para maior durabilidade possível nas especificações, visando alta performance e evitando obsolescência prematura.
• Utilização de materiais cujos processos de extração de matérias-primas, beneficiamento, produção, armazenamento e transporte causem menor índice de danos ao meio ambiente nem estejam baseados em condições de trabalho indignas para os operários.
Qualidade ambiental interna e externa
• Elaboração do projeto mediante a utilização de técnicas que permitam uma construção mais econômica, menos poluente e que impacte de forma menos agressiva o meio ambiente.
• Evitar ao máximo a impermeabilização do solo.
• Evitar danos à fauna, flora, ecossistema local e ao meio ambiente.
• Planejamento de toda a obra e futura operação do edifício, minimizando a geração de lixo e resíduos.
• Evitar todo e qualquer tipo de contaminação, degradação e poluição de qualquer natureza, visual, sonora, ar, luminosa etc.
• Promoção da segurança interna e externa do edifício e seus usuários.
• Implantação e otimização de todos os recursos para a correta coleta seletiva do lixo, visando a reciclagem de materiais e a menor geração de resíduos descartáveis.
• Evitar grandes movimentos de terra, preservando sempre que possível a conformação original do terreno.
• Elaboração de um plano eficiente de drenagem do solo para durante e após a execução das obras, evitando-se danos como erosão ou rebaixamento de lençol freático.
Utilização consciente dos equipamentos e do edifício pelo usuário
• O projeto deve ser elaborado sempre com o apoio de quem irá operar o empreendimento, criando espaços e sistemas racionalizados, de baixo custo operacional e com mínimo impacto ambiental. Quando se entrega uma obra, não importando a escala, esta deveria ser acompanhada de Manual de Operação, Gestão e Manutenção.
• Orientação, criação e promoção de um curso de gestor ambiental do edifício.
• Amparo a todo o corpo de colaboradores, com treinamento adequado, visando a educação, o desenvolvimento intelectual e a criatividade.
• Difusão para o corpo de colaboradores e todos os usuários do edifício dos princípios de sustentabilidade e conservação do meio ambiente.
Soluções que permitem flexibilidade e durabilidade
• Adoção de soluções construtivas que garantam maior flexibilidade na construção, de maneira a permitir fácil adaptação às mudanças de uso do ambiente ou de usuário, no decorrer do tempo, evitando-se reformas que possam causar grande impacto ambiental, pela produção
do entulho.
• Adoção de materiais que sejam duráveis, não somente pelas suas características técnicas, mas, também, em função do seu desempenho e comportamento ao longo do tempo, o que resulta em longevidade para o edifício.
Fontes: Reuters Brasil, AsBEA, Instituto Akatu.



Links
www.akatu.net
www.asbea.org.br

Fernando Credidio. Conferencista, facilitador de cursos em organizações, professor, articulista e consultor em comunicação organizacional e marketing para o Terceiro Setor, sustentabilidade e responsabilidade socioambiental.

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