Estimular a produção autoral, resgatar valores de consumo humano e conectar pessoas que compartilham os mesmos gostos e interesses. Estes são os propósitos do Airu – um mercado e comunidade on-line de produtos artesanais e design. Fundado em 2011 e tendo investidores do porte da Rocket Internet GmbH, a iniciativa conecta produtores e consumidores de produtos artesanais e design, valoriza o trabalho manual e criativo na sociedade e ajuda designers, artistas e artesãos a se lançarem para o mercado. Em entrevista à Revista Filantropia, Jaques Weltman, cofundador e diretor comercial do Airu, explica como funciona o projeto e as vantagens do e-commerce para a geração de renda.
Revista Filantropia: Como surgiu o Airu e quais são os pilares do projeto?
Jaques Weltman: O Airu faz parte de um grupo internacional de internet, chamado Rocket Internet. No Brasil, este grupo alemão começou com o Groupon, e depois com a Dafiti. Eu e meu sócio estávamos alocados em outro projeto e identificamos uma vontade comum em trabalhar em um ramo que unisse o empreendedorismo a algo autoral. Portanto, o Airu faz parte de um sonho de viabilizar o trabalho autoral, resgatar o comércio humano feito de pessoas para pessoas e potencializar o empreendedorismo. A ideia uniu o know-how de e-commerce da Rocket com a ideia de comunidade e de algo social que tem o projeto.
RF: Que tipo de benefícios o Airu oferece?
JW: Os benefícios são viabilizar para as pessoas a possibilidade de viverem por meio daquilo que elas gostam de fazer, para que consigam tirar o sustento de atividades que mais lhes dão prazer, que é criar e desenvolver algo. Algumas pessoas vendem seus produtos no Airu e só vivem disso, porque conseguem gerar renda para não precisarem mais trabalhar em uma organização, exercendo de forma empreendedora sua própria atividade. O Airu, portanto, é uma plataforma de mercado que viabiliza que o artesão tenha a sua loja on-line e, além disso, tenha essa proposta de comunidade. Queremos trazer os artesãos e viabilizar a sua atividade como um todo, valorizando o trabalho manual – e mais do que isso, o trabalho autoral.
RF: Esse formato de vendas já é bem utilizado no exterior. Como está a aceitação no Brasil?
JW: A internet em si está em crescimento no Brasil. Com relação ao conceito de mercado on-line, que une a conta do vendedor à do consumidor final sem passar por um “atravessador”, a ideia é ainda pouco explorada no país. Eu sou muito esperançoso e ansioso para acompanhar essas evoluções que estamos tendo. É o momento de as pessoas entenderem os benefícios da internet e do e-commerce, somados à segurança dos sites. Além disso, ter um site não justifica ter sucesso. É necessário investimento e divulgação. Se você não investir em marketing, é como se tivesse uma loja de portas fechadas.
RF: Na prática, como funcionam as questões operacionais no Airu?
JW: Para entrar no Airu basta se registrar e se cadastrar como vendedor. Depois disso, você pode montar a sua loja on-line, divulgar seus produtos em nosso site e vendê-los. Quando é feita uma venda, o artesão recebe um e-mail dizendo que já pode entregar o produto para o cliente e aguardar o valor ser repassado para a conta informada. A entrega fica sob responsabilidade do vendedor. Nós calculamos o frete de envio e o consumidor já paga com esse valor agregado. O Airu cobra uma comissão de 15% pelas vendas realizadas. Além disso, o artesão paga R$ 9,90 por ano para manter uma loja no site, o que lhe dá direito a 100 produtos – um valor bem simbólico.
RF: O projeto também mantém dois blogs. Como eles funcionam?
JW: Os blogs são o Airu e o Praça do Artesanato. O Airu divulga notícias interessantes, fala um pouco sobre o site, modas, tendências etc. Já o Praça do Artesanato é mais focado no produto artesanal, com técnicas, dicas, depoimentos de artesãos, ou seja, tem um caráter muito mais de formação – enquanto o do Airu é muito mais informação e tendências de mercado. Já que o projeto é muito mais que um mercado, a ideia é conseguir formar e informar.
RF: Quais são os diferenciais do Airu em relação aos concorrentes?
JW: Eu diria que são três: comunidade, alinhamento e experiência no consumidor. A gente se preocupa muito com a comunidade. Nosso modelo de negócio mostra um alinhamento grande com o artesão. Esse alinhamento – econômico e de interesses – acontece não só no discurso, mas também na prática. E o último ponto seria a experiência no consumidor. Nosso site é o único que finaliza a compra em três cliques, parcelado, e aceita todas as vias de pagamento. Então, nós montamos uma ferramenta que faz com que o consumidor tenha a melhor experiência possível.
RF: Como você avalia o empreendedorismo no comércio de produtos autorais?
JW: É uma tendência que não volta e acompanha o próprio crescimento do e-commerce. Ao analisarmos os números, já vemos que os produtos autorais tiveram bastante elevação. Eu acredito que é um mercado ainda pouco atendido e de uma carência muito grande, porque esses profissionais liberais são muito apaixonados e dedicados – independentemente de não ser o principal sustento deles. Então, nesse contexto, o Airu serviu para dar o suporte que eles precisam. Temos recebido muitos elogios, de pessoas muito satisfeitas, porque conseguimos atender essas necessidades. Estamos no momento correto para atender esse mercado e ser um dos principais motores para esse crescimento.
RF: O Airu tem interesse em auxiliar o Terceiro Setor na utilização de novas ferramentas para a geração de renda?
JW: Temos muito interesse em auxiliar as organizações sociais no processo de inclusão digital, fazendo com que o Terceiro Setor possa utilizar a internet como um canal a mais de geração de renda. Parcerias com o Airu são muito bem-vindas, já que o nosso interesse é mais que mercado. O Airu quer que todas as organizações sociais que utilizem projetos de geração de renda tenham condições de vender seus produtos, e que todos os artesões apoiados tenham mais oportunidades de vendas. Estamos de braços abertos para receber qualquer organização social que tenha interesse nesse projeto.