Reconhecimento jurídico para as ONGs internacionais

Por: Eduardo Magalhaes
01 Janeiro 2011 - 00h00

A Convenção Europeia sobre o reconhecimento da personalidade jurídica das organizações não-governamentais, desde 1991, formalizou as ONGs internacionais com origem e atuação no continente europeu. Trata-se de uma importante ferramenta legal, já ratificada por dez países europeus, que pode servir como parâmetro a outros grupos de nações. Por meio de tal instrumento, a ONG que dele puder fazer uso terá a permissão para atuar em qualquer país signatário, conquistando os mesmos direitos e deveres que qualquer outra instituição nativa.

O que diz a lei

A elaboração da convenção foi resultado de uma longa trajetória. A relevância das ONGs foi atestada pelo Conselho da Europa no início de 1951. Em seguida, várias etapas de formulação e aprovação foram cumpridas até sua adoção, em 24 de outubro de 1985, e realizou-se abertura para assinatura dos países integrantes do conselho em 24 de abril de 1986. Atualmente, 47 países europeus formam o conselho, ou seja, quase todo o continente.

Para se beneficiar da norma, a ONG deve atuar em ao menos dois países europeus, além de não ter fins lucrativos e cumprir as exigências legais de seu país-sede. Respeitando o que se pede, a entidade se torna passível de obter o reconhecimento de sua personalidade jurídica em todas as nações que tenham ratificado a convenção, que, no momento, são: Áustria, Bélgica, Chipre, Eslovênia, França, Grécia, Portugal, Reino Unido, Suíça e territórios da antiga Macedônia.

Alguns dos principais detalhes da convenção são:

  • Tanto as associações como as fundações, além de outros tipos de organizações privadas sem fins lucrativos e não-governamentais, são beneficiadas pela norma.
  • A ONG que deseja ser certificada internacionalmente deve solicitar o procedimento ao governo de seu país-sede. Este fará uma primeira análise do pedido e o encaminhará à Secretaria Geral do Conselho da Europa.
  • O Estado que ratificar a convenção pode ainda indicar em quais países devem ser reconhecidas as ONGs cuja sede estiver em seu próprio território.

Por que é importante o reconhecimento legal das ONGs internacionais?

A origem do que entendemos hoje por ONGs Internacionais é religiosa. Por exemplo, a Companhia de Jesus atua há séculos em todo o mundo e, no Brasil, iniciou suas ações nas primeiras décadas logo após o descobrimento. Assim, desde os primórdios, as Organizações Não-Governamentais de Alcance Transnacional (ONGAT – como também são conhecidas as ONGs Internacionais) são caracterizadas pelo espírito de operação global.

O reconhecimento legal de qualquer organização, em nível internacional, está se tornando cada vez mais importante devido ao aprofundamento da globalização. A intensificação das relações sociais, econômicas, políticas e culturais transformou os problemas e soluções nacionais em soluções e problemas mundiais. Por exemplo, questões como a paz, o efeito estufa, as crises financeiras, a fome, o abastecimento de água, o controle e a cura de doenças, a imigração e a pesquisa científica, entre outros, não podem ser resolvidas em nível nacional.

Mesmo nacionalmente, há muitas questões que devem ser encaminhadas conjuntamente entre Primeiro, Segundo e Terceiro Setores. Isoladamente, as soluções tornam-se mais difíceis. As ONGs internacionais, dessa forma, devem igualmente articular-se com os outros dois setores para que possam dar conta de sua missão.

É, portanto, vital também o desenvolvimento da globalização jurídica para as instituições. Nas últimas décadas e, especialmente, nos anos mais recentes, os atores mundiais deixaram de ser somente os Estados, multiplicando-se em diversos tipos. Além das poderosas empresas multinacionais, muitas vezes com receitas maiores do que o PIB de vários países, há também os sindicatos mundiais, com milhões de trabalhadores associados e, finalmente, um conjunto razoável de ONGs com impactos em todo o planeta.

Estando fortalecidas pelo reconhecimento jurídico internacional, as ONGAT se convertem em atores planetários fundamentais para a criação de um mundo onde se busque a simetria das forças políticas e ideológicas, e não o cenário de hegemonia assimétrica de um ou poucos atores. As ONGs internacionais podem, nesse sentido, contribuir efetivamente não só para um mundo mais justo, mas também mais democrático. Diga-se de passagem, justiça e democracia se completam e dificilmente são obtidas separadamente.

As ONGs segundo a ONU

A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Economic and Social Council (Conselho Econômico e Social), reconhece a existência das ONGs desde 1950. Esse conselho é um dos mais importantes da ONU na medida em que é responsável pela coordenação de suas 14 agências especializadas (Organização Internacional do Trabalho, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco, Fundo Monetário Internacional, Banco Internacional de Reconstrução de Desenvolvimento, Organização Mundial do Comércio etc.), além de todos os outros comitês e comissões especiais, técnicos e econômicos.

Ao longo das últimas décadas, o conselho alterou algumas vezes os critérios para o reconhecimento de uma ONG pela ONU, como após a ECO-92, no Rio de Janeiro. A última resolução referente a tais princípios é de 25 de julho de 1996, e inovou no sentido de reconhecer enquanto instituição não somente as de nível internacional, mas também as regionais, sub-regionais e nacionais.

Outra referência muito importante da ONU em relação às ONGs está na própria Carta das Nações Unidas, na qual estão estabelecidos os propósitos e princípios da entidade desde sua fundação, em 1945. No artigo 71 desse documento está estabelecido claramente que o conselho poderá consultar não somente suas estruturas orgânicas, mas também ONGs internacionais e nacionais.

Para o Brasil e a América do Sul

Uma sugestão para a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong) e outras entidades que defendem as ONGs é a luta pela construção de um marco legal internacional para os países que formam, por exemplo, o Mercosul (Mercado Comum do Sul). E por que não, quem sabe, em um futuro não tão distante, o desenvolvimento de um projeto, junto à ONU, que vise obter reconhecimento legal para as ONGs internacionais em todo o mundo? No caso do Brasil, pode-se até pensar em uma ação conjunta entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) ou até mesmo entre os países que fazem parte da OEA (Organização dos Estados Americanos) ou Unasul (União das Nações Sul-Americanas).

Interdependência

A tendência do mundo é a consolidação de uma sociedade planetária multifacética no que se refere às suas instituições e poder político e econômico. Essa realidade está se impondo por vários fatores, entre eles o acesso à comunicação em escala jamais vista e o aumento do nível de organização da sociedade civil. Hoje está muito mais difícil enganar e esconder.

A perpetuação de um único Estado e pequeno grupo de multinacionais dando as cartas no jogo mundial é uma ideia que está se enfraquecendo. Um conjunto muito maior e mais diverso de atores se fortalece no papel de protagonistas da governança global e, entre eles, estão as ONGs transnacionais.

Tudo o que você precisa saber sobre Terceiro setor a UM CLIQUE de distância!

Imagine como seria maravilhoso acessar uma infinidade de informações e capacitações - SUPER ATUALIZADAS - com TUDO - eu disse TUDO! - o que você precisa saber para melhorar a gestão da sua ONG?

Imaginou? Então... esse cenário já é realidade na Rede Filantropia. Aqui você encontra materiais sobre:

Contabilidade

(certificações, prestação de contas, atendimento às normas contábeis, dentre outros)

Legislação

(remuneração de dirigentes, imunidade tributária, revisão estatutária, dentre outros)

Captação de Recursos

(principais fontes, ferramentas possíveis, geração de renda própria, dentre outros)

Voluntariado

(Gestão de voluntários, programas de voluntariado empresarial, dentre outros)

Tecnologia

(Softwares de gestão, CRM, armazenamento em nuvem, captação de recursos via internet, redes sociais, dentre outros)

RH

(Legislação trabalhista, formas de contratação em ONGs etc.)

E muito mais! Pois é... a Rede Filantropia tem tudo isso pra você, no plano de adesão PRATA!

E COMO FUNCIONA?

Isso tudo fica disponível pra você nos seguintes formatos:

  • Mais de 100 horas de videoaulas exclusivas gratuitas (faça seu login e acesse quando quiser)
  • Todo o conteúdo da Revista Filantropia enviado no formato digital, e com acesso completo no site da Rede Filantropia
  • Conteúdo on-line sem limites de acesso no www.filantropia.ong
  • Acesso a ambiente exclusivo para download de e-books e outros materiais
  • Participação mensal e gratuita nos eventos Filantropia Responde, sessões virtuais de perguntas e respostas sobre temas de gestão
  • Listagem de editais atualizada diariamente
  • Descontos especiais no FIFE (Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica) e em eventos parceiros (Festival ABCR e Congresso Brasileiro do Terceiro Setor)

Saiba mais e faça parte da principal rede do Terceiro Setor do Brasil:

Acesse: filantropia.ong/beneficios

PARCEIROS

Incentivadores
AudisaDoação SolutionsDoritos PepsicoFundação Itaú SocialFundação TelefônicaInstituto Algar de Responsabilidade Social INSTITUTO BANCORBRÁSLima & Reis Sociedade de AdvogadosQuality AssociadosR&R
Apoio Institucional
ABCRAbraleAPAECriandoGIFEHYBInstituto DoarInstituto EthosSocial Profit
Parceiros Estratégicos
Ballet BolshoiBee The ChangeBHBIT SISTEMASCarol ZanotiCURTA A CAUSAEconômicaEditora ZeppeliniEverest Fundraising ÊxitosHumentumJungers ConsultoriaLatamMBiasioli AdvogadosPM4NGOsQuantusS&C ASSESSORIA CONTÁBILSeteco Servs Tecnicos Contabeis S/STechsoup